Relátórios de economia
19/8/2021

Raio-X crédito; foco em empresas

Por

Fernanda Consorte

Cristiane Quartaroli

A penetração do mercado de crédito ainda é relativamente baixa no Brasil. O crédito em relação ao PIB é 52% enquanto em países da América Latina, como o Chile ou Zona do Euro essa proporção é quase 20pp maior que no Brasil. Na pré-crise Covid, ou seja, até final de 2019, o mercado de crédito sofria uma mudança importante com a diminuição do ímpeto de empréstimo do BNDES. O saldo de crédito para pessoas jurídicas diminuiu muito, entre 2016 e 2019 (veja o gráfico 1), a carteira de crédito PJ encolheu mais de 10% enquanto nesse mesmo período o saldo de crédito para pessoas físicas aumentou quase 40%.

Um dos motivos que explica essa deterioração do crédito para pessoas jurídicas é, como mencionado, a mudança de perfil do BNDES, que deixou de atuar de forma expansionista (veja o gráfico 2) como fez em governos passados, saindo inclusive do seu papel principal de crédito desenvolvimentista. Mas sobre isso falamos melhor em outra oportunidade. O fato é que ao retirar a força motora do BNDES somado à abertura maior do mercado de capitais, o mercado de crédito para empresas, que já era relativamente pequeno, diminuiu ainda mais. Esse movimento, no entanto, mudou na pandemia, quando as empresas se viram diante de um quadro de forte incerteza, com oferta de crédito a juros mais atrativos.

Hoje, o saldo da carteira de PJ cresce a quase 15%, com espaço tanto para crédito livre, como crédito direcionado. Olhando mais a fundo o crédito PJ, nos dias atuais, o crédito livre para pessoas jurídicas alcançou R$1,2 trilhão, crescendo 1,0% no mês e 13,9% em doze meses, destacando-se duplicata se recebíveis, e capital de giro com prazo superior a 365 dias.

Contudo vale também mencionar a expansão do crédito ligado ao comércio exterior durante a pandemia, o que era de se esperar diante da volatilidade que temos observado da taxa de câmbio, assim como a mudança do cenário internacional. Ou seja, o fluxo de mercadoria sofreu consequências dado a incertezas da crise, gerando a necessidade de tipos de créditos ligados a esse segmento

Por exemplo, as concessões de Finimp (Financiamento à Importação) caíram quase 4% em 2019, ao passo que o crescimento dos últimos 12 meses encerrados em junho/2021 já aponta um aumento de 60% (veja o gráfico 3); movimento parecido vemos com o repasse externo. O produto ACC, que financia exportação, antes da crise tinha uma concessão média de R$ 10 bilhões/mês, mas pulou para mais de RS$ 12 bilhões/mês entre 2020 e 2021, sendo que que em alguns meses foi observada concessão de R$ 20 ou R$ 30 bilhões.

Interessante notar que essa expansão de crédito no meio de uma crise econômica na proporção que tivemos ano passado não ocasionou, até o momento, aumento consistente de inadimplência. No auge da crise, a inadimplência PF mostrou um sobressalto, mas que rapidamente foi corrigido. Possivelmente, esse salto se deu pela queda de confiança dos agentes que, com temor do futuro, seguraram pagamentos. Movimento que não se observou nas pessoas jurídicas, em praticamente nenhum segmento, mesmo no de comércio exterior diante das dificuldades (veja o gráfico 4).

Olhando para frente, embora estejamos em um ciclo de aumento de juros – recentemente o BCB (Banco Central do Brasil) elevou a taxa de 2,0% aa para 5,25% aa e já antecipou que deve seguir com o ciclo de aperto monetário –, entendemos que há demanda para crédito. Primeiro, porque embora acreditemos que a taxa Selic seguirá subindo, não deve chegar a patamares históricos quando a taxa de juros no mercado de crédito era o dobro da praticada atualmente (veja o gráfico 5). Segundo, que a própria pesquisa do BCB sobre demanda e oferta por crédito sugere que ainda há apetite por crédito.

Conclusão

O mercado de crédito sofreu uma importante transformação no Brasil, mas nossa razão crédito/PIB ainda é baixa. Recentemente, observamos uma crescente oferta e também demanda de crédito por empresas, com aumento importante para os segmentos de comércio exterior, que mesmo na crise econômica não sofreu grandes problemas com inadimplência. A constante evolução do mercado bancário e de seus concorrentes, assim como o nível da penetração do crédito no sistema, sugere que há bastante espaço para o crescimento do mercado de crédito no País. Além disso, entendemos que o papel do crédito é crucial na evolução e sustentabilidade da recuperação econômica.

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