Relatório Especial

Vamos falar sobre confiança?

Sai ano, entra ano, voltamos a falar sobre confiança pois, para nós, é um dos termômetros mais importantes da economia de um país. A confiança e as expectativas dos empresários e da população medem o nível de otimismo ou de pessimismo e apontam tendências de consumo e de investimentos - que são dois dos principais motores da atividade econômica e do mercado de trabalho. Quando estão otimistas, os empresários tendem a fazer investimentos e os consumidores ficam mais propensos a comprar. Os aumentos dos investimentos e do consumo alimentam o crescimento econômico e a criação de empregos. Em tempos de pessimismo, os investimentos e o consumo diminuem, desacelerando a atividade econômica. O contrário também é verdadeiro. Mas em que pé estamos atualmente quando o assunto é confiança?

Não que estejamos em um cenário com céu de brigadeiro, pois ainda há muitas questões a serem endereçadas no Brasil (reformas, reformas, reformas). Mas o fato é que os indicadores de confiança divulgados recentemente mostraram alguma recuperação, tanto quando analisados pela ótica dos empresários, quanto pelas lentes do consumidor. O que não deixa de ser uma boa notícia. A recente desaceleração da inflação teve papel fundamental para a percepção de melhora por parte dos consumidores; já do lado do empresariado, a queda da inflação também ajuda, mas o avanço – ainda que a passos acanhados - de algumas reformas estruturais, como a tributária, contribuiu para a evolução desses indicadores. Veja no gráfico abaixo a recuperação recente da confiança do consumidor e do empresário, mas ainda abaixo do nível antes da pandemia. Ou seja, há ainda espaço para melhora.

Vale destacar que, de acordo com a empresa Ipsos – que acompanha mensalmente a atitude dos consumidores em 29 países – o Brasil é o segundo país onde o nível de confiança do consumidor esteve mais elevado no mês de julho (ver gráfico abaixo), ficando atrás da Indonésia e acima da média dos 29 países considerados nesta pesquisa. A pesquisa tem abrangência significativa, já que conta com a participação de mais de 21 mil pessoas, de 29 mercados (países). Ela é realizada na plataforma de pesquisa on-line Global Advisor, da Ipsos, e divulgada mensalmente pela Refinitiv como o Índice de Sentimento do Consumidor Primário (PCSI).

Adicionalmente, para se ter uma ideia, os indicadores de confiança da Zona do Euro e dos EUA continuam em níveis abaixo daqueles observados antes da pandemia (veja nos gráficos abaixo). São países que ainda estão sofrendo com a pressão inflacionária e alta dos juros. Não que nós não estejamos, mas o Brasil está de fato um passo à frente desses países nesse quesito. Como o Brasil iniciou o ciclo de aumento da Selic muito antes do que os EUA e os países da Zona do Euro é normal esperar que o efeito sobre a inflação e consequentemente sobre os indicadores de confiança sejam sentidos antes também.

Outra questão que devemos estar atentos é o fato de que uma melhora na confiança de um país pode refletir em muitas outras variáveis, como risco-país, por exemplo, e até mesmo na taxa de câmbio (e vice-versa!) - que é nosso assunto preferido. Observando o gráfico abaixo, é possível notar que confiança e risco-país são praticamente como imãs com as polaridades trocadas – quando a confiaça está baixa o risco-país sobe e o contrário também é verdadeiro. Lembrando que o risco-país é o indicador que reflete justamente o grau de confiança que o mercado tem na economia e na capacidade de pagamento de uma nação. Com o nível de confiança dos empresários e do consumidor melhorando, nosso risco-país tende a baixar e, assim, o efeito pode ser positivo para nossa taxa de câmbio – vimos isso recentemente, certo? Desde meados do ano passado, o risco-país caiu cerca de 130 pontos, hoje está no nível de 200 pontos e o câmbio valorizou mais de 7%. Será que essa é a tendência para os próximos meses?

Lembrando que a taxa de câmbio é um fator importante que pode afetar a confiança na economia brasileira. Uma taxa de câmbio favorável, com a moeda local valorizada, pode contribuir para uma melhora da inflação, estimular importações e atrair investimentos. Por outro lado, uma taxa de câmbio desfavorável, com a moeda local desvalorizada, pode pressionar a inflação, prejudicar importações e aumentar o endividamento externo. A estabilidade e a previsibilidade da taxa de câmbio são fundamentais para criar confiança entre investidores, consumidores e empresários no Brasil.

Em resumo, os indicadores de confiança desempenham papel vital na análise da economia brasileira. Eles podem dar sinais sobre a perspectiva dos consumidores e empresários em relação ao ambiente econômico, influenciando direta ou indiretamente o comportamento das pessoas, das empresas e até da taxa de câmbio. No Brasil, a busca contínua pela estabilidade macroeconômica e o desenvolvimento de políticas públicas responsáveis são fatores essenciais para sustentar níveis mais elevados de confiança e fomentar um ambiente favorável ao crescimento econômico sustentável.

Ainda é cedo para dizer, afinal, como diz o ditado popular “a sobeja confiança faz desfalecer nas obras”. Ou seja, confiança é bom, mas confiança demais também pode atrapalhar e, no caso da economia, pode levar os agentes a tomarem decisões precipitadas. Então, muita calma nessa hora. Por enquanto, estamos passando por um momento de otimismo, com queda da nossa taxa de juros e desaceleração da inflação. Tivemos inclusive revisão de nota de duas agências de risco importantes (S&P e Fitch), estamos observando entrada de fluxo de capital para Brasil (reflexo também da melhora nos índices de confiança) e tudo isso tende a contribuir para um bom comportamento da nossa taxa de câmbio. O que irá acontecer daqui em diante vai depender muito da condução da política monetária/econômica do País e de como isso será recebido pela população e por empresários – que irão reavaliar se ainda estão confiantes ou não.

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Mestre em relações internacionais (USFC), Doutor em direito internacional (USP) e pós-doutor em Direito do comércio internacional (Georgetown University), Barral foi secretário de Comércio Exterior do Brasil de 2007 a 2011. Atualmente é, também, diretor no Departamento de Comércio exterior da FIESP e conselheiro da Câmara de Comércio Americana.

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