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3/11/20

Os três possíveis cenários para a economia em 2021

Por

Michele Loureiro

A pandemia está desenhando uma nova ordem mundial. O isolamento social, o choque de ofertas e as políticas para amenizar os danos econômicos ao redor do mundo foram as pautas principais nos últimos meses. A questão agora é como encontrar o tal do novo normal e entender como ficam as questões internas e de comércio exterior.

Para ajudar a compreender esse cenário, o Ouribank realizou uma coletiva de imprensa com três especialistas da instituição renomados em questões econômicas. Fernanda Consorte, economista-chefe do Ouribank, Welber Barral, estrategista de Comércio Exterior do Ouribank, e Cristiane Quartaroli, economista e estrategista de Câmbio do Ouribank, conversaram com jornalistas para traçar possíveis cenários para 2021.

Para Fernanda, o pior já passou. “Ainda assim precisamos ser realistas. Temos um caminho longo a ser seguido. Em um cenário base, a questão internacional é dominada pela relação conturbada entre Estados Unidos e China e no Brasil é pautada pela necessidade de reformas, especialmente a fiscal”, avalia.

Ela acredita que a vacina para gerar imunidade ao coronavírus é o ponto de partida da discussão. Em um cenário base, a economista-chefe acredita que no primeiro trimestre boa parte da população global estará vacinada. “Se isso se consolidar, a pandemia começa a ser erradicada, a segunda onda na Europa não preocupa tanto e a economia volta a rodar”, diz.

Uma vacinação em massa seria benéfica para retomada econômica, o que colocaria a China como protagonista e abriria espaço para os emergentes. “Nesse cenário, quem tiver uma história boa para contar acaba atraindo esses recursos e há uma chance para o Brasil, caso haja a reafirmação do compromisso com a reforma fiscal”, afirma Fernanda.

O desafio também está presente no cenário interno. Considerando o desgaste no governo atual pode ser difícil que haja um empenho integral na história fiscal. “A queda de braço ainda deve seguir e isso deve dificultar a entrada de capital estrangeiro. Por isso, a taxa de câmbio ainda segue pressionada e deve terminar 2021 no patamar perto de R$ 5 e longe do pré-crise”, diz a economista-chefe.

No cenário mais provável defendido pelos especialistas do Ouribank, o mercado trabalho registrará uma melhora de forma lenta ao longo do próximo ano. A taxa de desemprego está perto dos 14%, mas o desalento (pessoas que desistem de procurar trabalho) ainda está muito alto.

“Com isso, estimamos uma recuperação econômica tímida, com crescimento de 2,5% do PIB em 2021. E há um descompasso entre as áreas. Setores ligados a serviços e mão de obra devem demorar mais para voltar do que tecnologia, por exemplo”, diz Fernanda.

O cenário base ainda estima uma ligeira alta da inflação, o que deve elevar a taxa básica de juros para perto de 4% no fim do ano que vem.

“A verdade é que teremos uma impressão de melhora do mercado no próximo ano, mas vamos continuar com momentos amargos por conta das decisões do governo. É um cenário melhor, mas tão pouco muito róseo”, avalia.

Segundo Cristiane, o Ouribank trabalha com outros dois cenários: um mais otimista e um pessimista. Para que uma visão mais positiva se concretize, a pandemia precisa ser controlada o quanto antes e a vacinação em massa deve começar a acontecer ainda em 2020.

Com a economia global reaquecendo a partir da erradicação do novo coronavírus, os emergentes também ganham foco para atender às demandas globais e há um aumento de apetite ao risco. Com mais fluxo de capital poderia haver uma apreciação do câmbio e o real se valorizar para um patamar entre R$ 4,20 e R$ 4,50.

“Com a reabertura de todos os países, a gente voltaria a ver crescimento mais sustentável. Nesse cenário ideal, poderíamos ter uma alta de 4% do PIB em 2021, uma recuperação mais parruda. Mas isso também requer que o governo dê continuidade à agenda econômica e acelere as reformas para garantir um quadro fiscal mais ajustado”, explica a economista e estrategista.

Há ainda um outro cenário que prevê momentos mais difíceis. Caso a vacinação não comece em breve, e haja uma segunda onda na Europa, EUA e Brasil, pode existir a necessidade de novas medidas de isolamento, o que culminaria em economias fechadas e forte aversão ao risco.

“Com isso, cairia o ingresso de fluxo de investimento e o câmbio iria para perto de R$ 6. O governo brasileiro tenderia a adotar novas medidas populistas, com mais auxílio-emergencial, e a agenda ficaria sem espaço para reformas”, afirma Cristiane.

Nesse contexto, o problema fiscal se aprofundaria e haveria uma recessão ainda maior, com crescimento do PIB ao redor de 1% em 2021. “Adicionalmente, a inflação aumentaria e a Selic deveria ser ajustada para um patamar mais alto, de cerca de 5,5% ao fim do próximo ano”, diz Cristiane.

As possibilidades para o comércio exterior

O saldo da balança comercial brasileira está em evolução e pode até dar uma sensação de que as notícias são positivas. No entanto, os dados precisam ser observados com cautela.

A queda das importações, que reflete a redução da atividade industrial, e a maior dependência de exportações para China são os principais motivos para a evolução da balança comercial neste ano.

Segundo Barral, a previsão em um cenário base é de que haja a continuidade da exportação de commodities, mas o preço deve ser mais equilibrado em virtude da redução do pagamento de prêmio, principalmente, para as commodities agrícolas.  

“Acredito em um nível alto de exportações e em crescimento de importação de insumos, o que levaria um superávit importante de US$ 45 bilhões em 2021”, diz.

Em um cenário otimista, Barral acredita que pode haver uma melhora geral na exportação de manufaturados para os Estados Unidos, onde o Brasil teria participação.

“Isso permitiria aumentar o saldo das exportações. Por outro lado, um avanço da economia brasileira elevaria a importação de insumos e de equipamentos para recompor o parque industrial por conta de um aumento de fluxo de comércio. Nesse contexto, o superávit ficaria em cerca de US$ 40 bilhões no ano que vem”, avalia Barral.

Por último, o cenário pessimista também não pode ser totalmente descartado. Para o estrategista, caso haja um aumento da dependência de exportação de commodities e uma dificuldade de retomar a exportação de manufaturados, isso levaria a superávit de US$ 42bilhões, mas com um fluxo comercial menor.

Barral pondera que a questão do comércio exterior é uma das mais complicadas porque leva em conta a combinação de uma série de fatores cambiantes no cenário internacional. A relação entre Estados Unidos e China, o início efetivo da vacinação na Europa, as dificuldades da Argentina e a reputação dos emergentes entram nessa conta.

“Medidas de comércio exterior não são tomadas de um dia para o outro. Mesmo que haja sinais de implementações e melhorias, isso leva um tempo para ser incorporado nas relações comerciais e talvez não haja impacto relevante em 2021”, finaliza.

Confira as projeções: IMAGEM

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