blog
12/5/22

Como as eleições impactam o acordo entre Mercosul e União Europeia

Por

Michele Loureiro

Nesta semana, é comemorado o Dia do Continente Europeu e a data festiva reacende a importância dos negócios entre o Brasil e o velho continente. Há alguns anos, vem sendo desenhado um acordo internacional que estreitaria as relações comerciais entre os países do bloco da UE (União Europeia) com o Mercosul. Afinal, como as questões políticas podem impactar na validação do acordo?

Além de desenhar o cenário político, social e econômico do Brasil nos próximos quatro anos, as eleições presidenciais que acontecerão no final de 2022 terão papel fundamental sobre o avanço, ou não, do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

Celebrado três anos atrás como um dos maiores acordos comerciais da história e como um trunfo do governo de Jair Bolsonaro, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia depende de questões políticas e climáticas para entrar em prática.

Questão do clima na pauta

Yana Dumaresq, que foi secretária especial adjunta de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais no Ministério da Economia e atualmente é diretora de Políticas Pública sem uma empresa multinacional, afirma que o desempenho do Brasil em relação às questões climáticas é uma das travas para o acordo.

“A atual política ambiental pode colocar o País em maus lençóis. O aumento do desmatamento de forma desenfreada, as decisões injustificadas de facilitação de ocupações e o afrouxamento de fiscalização dificultam que o Brasil seja bem-visto globalmente”, afirma.

Para Weber Barral, estrategista de Comércio Exterior do Ouribank, não há grandes expectativas para acordos internacionais com a continuidade do governo Bolsonaro.

“As negociações devem seguir, mas não se prevê nenhuma grande evolução sobre o acordo com a União Europeia, nem de outros acordos, como Canadá e Coreia do Sul, que estão negociando com o Mercosul”, afirma Barral.

Em entrevista recente, a euro deputada Marie-Pierre Vedrenne, que é representante da França no Parlamento Europeu, disse que a conclusão do acordo de livre comércio entre Mercosul e a UE pode ser “complicada” durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. A deputada disse que o presidente brasileiro “não mostrou compromisso” com o combate ao desmatamento.

Ela disse que o Mercosul ainda precisa realizar algumas etapas para a conclusão do acordo. Entre elas, o controle de desmatamento, a certificação de produtos e a aplicação do Acordo de Paris.

Em suma, a continuidade do governo atual pode atrasar as negociações. Isso não quer dizer, é claro, que haveria avanços mais rápidos e significativos com a mudança de poder e a presidência de Lula, por exemplo.

“Mas é fato que o ex-presidente transita deforma mais amigável pelo cenário internacional e poderia ajudar no avanço do acordo”, diz Jairo Bottino, consultor internacional.

Por que o acordo é importante?

Segundo Daniel Hirschmann, assessor da Secretaria de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, o acordo entre Mercosul e União Europeia criará uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, integrando o Brasil a mais de 25% do PIB mundial e 780 milhões de consumidores.

O Ministério da Economia estima aumento de R$500 bilhões de reais no PIB (Produto Interno Bruto) em um intervalo de 15 anos com a redução das barreiras não-tarifárias e o incremento esperado na produtividade, caso o acordo seja colocado em prática.

“A maior inserção da economia brasileira no comércio internacional por meio da negociação de acordos comerciais permite o acesso das empresas nacionais a insumos e tecnologias e aumenta a concorrência no mercado doméstico, com estímulos à inovação e à produtividade”, explica Daniel.

Pela sua importância econômica e a abrangência de suas disciplinas, esse é o acordo mais amplo e de maior complexidade já negociado pelo Mercosul. O Imposto de Importação será eliminado para mais de 90% dos bens comercializados entre os países dos dois blocos após um período de transição de até 15 anos, com regras de origem que favorecem a maior integração da economia brasileira às cadeias de valor.

Além disso, o acordo prevê abertura, maior transparência e segurança jurídica nos mercados de serviços, investimentos e compras governamentais, bem como redução de barreiras não tarifárias e consolidação de agenda de boas práticas regulatórias, ademais do estabelecimento de disciplinas modernas na área de facilitação de comércio e propriedade intelectual, entre outros temas.

“Com certeza é uma missão importante para o próximo presidente e deve ser tratada de forma prioritária. A questão climática é a mais forte nessa pauta, ao menos no primeiro momento, e, também, deve ser fonte de debates calorosos entre os candidatos nos próximos meses”, finaliza Jairo.

ouça nosso podcast!

Economia do dia a dia

Um resumo dos principais acontecimentos de cada dia que podem influenciar na taxa de câmbio, tudo isso em menos de 1 minuto.

ouça agora