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15/6/20

Agronegócio: a esperança brasileira em tempos difíceis

Por

Michele Loureiro

A pandemia do novo coronavírus trará resultados difíceis para a economia brasileira. Esse já é um fato que vem sendo observado a cada divulgação de indicadores nos últimos meses. A previsão do mercado é de uma queda de 6,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020. Enquanto isso, alguns setores mostram certa resiliência e são a esperança para ajudar a alavancar uma retomada.

A aposta da vez é o setor de agronegócio, já conhecido por sua relevância na economia do país por representar cerca de 5% do PIB. Fatores como o dólar em alta, que torna grãos como soja e milho mais competitivos, e a retomada do consumo de países como a China, devem jogar a favor do setor nos próximos meses.

De acordo com a consultoria Cogo – Inteligência em Agronegócio, a expansão passará também pela manutenção de volume da indústria de fertilizantes e defensivos agrícolas, pelas exportações de proteína animal (bovinos, suínos e aves) e pelo setor de medicamentos veterinários. De acordo com as projeções, o Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária em 2020 está estimado em R$ 689,9 bilhões, 7,6% maior que o resultado de 2019.

Para Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, a China é nosso principal foco neste momento de recuperação. “Eles são responsáveis pela exportação de cerca de 30% dos produtos agrícolas brasileiros, sobretudo soja e carne. São muito importantes para a nossa balança comercial”, diz.

Com a retomada chinesa, Cristiane acredita em um aumento da demanda por nossos produtos, que são de primeira necessidade. “Além disso, os contratos são fechados a longo prazo e já há muitas vendas encaminhadas. O setor não sentiu um grande impacto nesses meses de pandemia e deve passar bem por esse momento”, avalia.

Para se ter uma ideia da resiliência do agronegócio, na crise financeira de 2008 tivemos uma queda de US$ 7 bilhões de dólares nas exportações do setor, mas no ano seguinte as remessas quase dobraram. “É factível esperar que vamos ter uma redução, mas acredito que será pequena em comparação com outros segmentos, e a melhora pode ser rápida”, diz a economista.

Um ponto de alerta, entretanto, é a guerra comercial entre China e Estados Unidos. Em uma das tentativas de trégua entre os países a soja entrou na pauta e os chineses passaram a comprar mais produto dos americanos, arrefecendo a demanda por soja brasileira. “Perdemos um certo espaço, mas ainda assim isso não compromete o desempenho. A nossa venda de carnes, por exemplo, teve um aumento de quase 30% até maio deste ano, se comparado com o mesmo período do ano passado”, afirma Cristiane.

Outras promessas para a retomada

Algumas frentes ganharam destaque por conta da pandemia. Com a recomendação de isolamento social, setores como tecnologia da informação, ensino on-line, seguro-saúde e telemedicina tiveram aumento expressivo de demanda e tendem a continuar em alta depois que o surto do novo coronavírus passar.

Há ainda os setores que tiveram um aumento temporário na demanda, mas que devem voltar à normalidade após coronavírus, como alimentação delivery, setor farmacêutico e produtos de limpeza.

Na lista dos setores com forte queda ao longo da crise e que poderão se recuperar rapidamente depois, estão frentes como serviços estéticos, vestuários e indústria moveleira, por exemplo.

Em contrapartida, frentes como turismo, entretenimento e restaurantes devem demorar para sentir uma retomada e precisarão reinventar a forma de trabalho.

Para Cristiane, os efeitos da pandemia são intensificados pelo ambiente político desgastado. “Nem todas as reformas prometidas pelo governo saíram do papel. Há uma pauta que prevê a votação de frentes como as reformas tributária e administrativa e a independência do Banco Central, mas está difícil visualizar isso com esse cenário sem muita coordenação”, diz Cristiane.

“O fato é que se essas reformas acontecerem, o cenário fica mais favorável e a retomada pode vir mais depressa. Agora, ainda vivemos um momento de muita incerteza”, finaliza.

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